Comecei essa viagem de novembro de 2015 por Bucareste, capital da Romênia. Quer dizer, minha chegada foi por Milão e lá fiquei a primeira noite, entre dois voos, mas só para descansar. A viagem mesmo começou com a chegada na cidade que já foi chamada "Paris do Leste".
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A "Champs-Élysées" romena (na verdade, o Boulevar Unirii) |
Olha... a cidade lembra tanto Paris quanto Buenos Aires. O taxista que me levou do aeroporto ao hotel disse que há um Arco do Triunfo e uma "Champs-Élysées" pra fazer jus ao apelido. Mas ao passar pelo arco em reforma, ele mesmo meio que se desculpa por a cidade não ser mais a mesma. Na verdade, ela teve seu auge de sofisticação no período entre a primeira e a segunda guerra mundial. Depois disso veio a guerra fria e a ditadura de Nicolae Ceausescu, que se inspirou na capital da Coréia do Norte para traçar novos planos urbanísticos para a cidade. Seguiu a cartilha comunista que ensina muito bem a fazer avenidas largas e mega-caixotes de concreto para abrigar órgãos públicos.
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Grandes avenidas e uma desordem aparente |
Felizmente essa história ruim da ditadura já acabou há mais de 25 anos e a época é de ressurgimento. Meu objetivo nesse país não é necessariamente a capital, de forma que fiz uma programação do tipo "verei o que a cidade me mostrar". Ou seja, tive dois dias inteiros para sair caminhando sem muito rumo. Tinha, claro, algumas referências, como o Palácio do Parlamento e o Parque Herastrau, em lados opostos da cidade.
No primeiro dia deixei de lado o transporte público e saí caminhando na direção do centro histórico. As pequenas ruas de paralelepípedos com muitos bares, restaurantes e lojinhas parecem um oásis turístico em meio às avenidas e construções sem nenhuma graça. Tinha uma atmosfera diferente do que eu vi na chegada à cidade. E olha que era antes das 11 da manhã e poucos turistas caminhavam pelo local. Certamente as tardes e noites deveriam ser fervilhantes por ali.
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Rua do centro histórico, conhecido por "Lipscani" |
Passei calmamente pelo local, visitei uma igreja ortodoxa das mais antigas da cidade e vi ali perto um busto do Príncipe Vlad Tepes Dracul, sobre o qual falarei bastante nessa viagem, e que mandou construir por ali uma espécie de sede administrativa de seu breve principado. Há pouca informação nas placas, mas deu pra entender que seria a primeira sede de uma corte real instalada em Bucareste. As ruínas estão preservadas e podem ser visitadas pelo Museu Curtea Veche ou simplesmente observadas da calçada lateral.
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Ruínas do que seria a primeira corte real instalada em Bucareste |
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O famigerado Príncipe Vlad Tepes Dracul |
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Igreja Ortodoxa construída entre 1545 e 1554 |
Saindo do centro histórico resolvi seguir caminhando até o Centro Cívico. Era longe, mas o dia estava lindo e a disposição era de primeiro dia de viagem! Liguei o navegador do celular (eu uso o Sygic, um aplicativo que uma colega do trabalho maravilhosamente me indicou - valeu Lígia!) e logo estava eu caminhando pelas calçadas arborizadas da Champs Élysée romena, ou, pra ser mais correto, do Boulevard Unirii (União), que termina bem de frente para o gigantesco palácio.
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Não é Paris, mas o outono é lindo aqui também! |
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Boulevard Unirii com parte do Palácio do Parlamento ao fundo |
Gigantesco é o melhor dos adjetivos para o monstro. Um palácio que nasceu do hiper inflado ego de Ceausescu e que é considerado o segundo maior edifício público do mundo (perde só para o Pentágono dos EUA). Mas os romenos estão longe de se orgulhar
disso. Para a construção, o ditador despejou milhares de famílias que
moravam na região. acabou ficando como símbolo e uma era que ninguém gosta de lembrar.
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O gigante! |
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Lateral do palácio, por onde se entra para a visitação guiada |
Por dentro hoje é sede do parlamento, abriga museus e funciona também como centro de convenções. Aliás, um sonho para qualquer organizador de eventos, dado o número de
salões de dimensões grandiosas! Segundo a guia da visita, nós andamos
cerca de 2,5 km dentro dele e conhecemos 5% das salas. Também já foi pensado em demolir, mas o custo da demolição e da destinação dos entulhos seria astronômico. O jeito é, aos poucos, mudar a imagem do gigante diversificando os usos.
Terminada a visita, saí novamente caminhando e parei num pequeno parque ao lado do centro cívico. Sentei num dos bancos e aproveitei para estudar o mapa, traçando os próximos passos. O centro histórico é conhecido também pelo nome de uma de suas ruas, a Lipscani. Resolvi então, voltar por ela e parar num dos restaurantes da região para comer alguma coisa. Já passava das quatro da tarde!
Depois de comer no tradicional e turístico "Caru' Cu Bere". Boa comida e boa cerveja num lugar bem interessante para conhecer.
Fechei o dia voltando ao hotel pela Rua Victoriae, que é a rua "chic" da cidade. Ali estão alguns dos grandes hotéis, lojas das principais grifes e alguns dos prédios e monumentos mais bonitos.
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Rua Victoriae |
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Igreja na Rua Victoriae |
Cheguei no hotel passava das sete da noite e o objetivo era descansar. Mas não consegui dormir cedo porque a cidade entrava num movimento histórico naquela noite. Dias antes de eu chegar ocorreu um acidente numa boate da cidade. Foi bem parecido como o da boate Kiss de Santa Maria. Morreram 32 pessoas e mais de 100 ficaram feridas. Cheguei no país
segunda-feira em meio a um clima de consternação generalizada. Mas o que isso tem a ver com o movimento histórico na cidade? Acontece que a autorização para funcionamento do local 'aparentemente'
foi concedida sem a devida fiscalização. Já viram isso em algum lugar?
O que você não viu é que a população foi às ruas e já na
manhã seguinte o prefeito do distrito e o Primeiro Ministro
do país renunciaram. Os proprietários da boate foram presos e a
população voltou às ruas nas noites seguintes querendo mais. Exigem uma reforma na
classe política como um todo, a fim de acabar com a corrupção como
aquela do alvará cedido de forma 'estranha'. Pena que as semelhanças com o Brasil pararam no alvará cedido sem fiscalização...
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Até aprendi um pouco de romeno pra acompanhar as notícias |
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Enfim, esse foi o primeiro dia em Bucareste. Uma cidade que pode parecer difícil de gostar no primeiro momento, mas que aos poucos vai mostrando uma simpatia encantadora!
Até!