Em todas as vezes, a companhia foi o forte das viagens. Desta vez, trouxe minha mãe em sua primeira viagem internacional.
Chegamos a Buenos Aires no domingo, dia 27 de dezembro, por volta das duas da tarde. Depois de um descanso, saímos para uma caminhada pelo “microcentro”, região entre o obelisco e a Praça de Maio. Por ser domingo, as ruas estavam calmas, exceto, é claro, pela Calle Florida, fervendo de consumidores à procura de pechinchas pós-natalinas.
Ao final da caminhada entramos na Catedral da cidade, localizada na Praça de Maio e deixei minha mãe se encantar com a suntuosidade das capelas laterais e do altar-mor. Segundo palavras dela, “a viagem já valeu”... hehehe (esse foi meu sorriso de satisfação).
Encerramos com um jantar-lanche à base de empanadas, pizza e "medias lunas" (o croissant deles)... sim, a fome era grande, considerando que somente tivemos a refeição do avião...
Na manhã seguinte, saímos para o aeroporto antes das sete da manhã. Nosso vôo pela Aerolineas Argentinas rumo a Ushuaia sairia às 8h40 e eu não gosto de chegar em cima da hora quando não conheço o aeroporto nem a companhia aérea.
A fila do check-in estava enorme! Mas, graças a “esta vieja” que me acompanhava, tivemos atendimento preferencial... O “esta vieja?” foi a pergunta meio contrariada que a moça fez quando pedi atendimento para idosos. Minha mãe nem ficou chateada, considerando que furamos uma fila de pelo menos uns 50 minutos... Eu já falei como é bom viajar com "personas de edad avanzada"?
O vôo foi tranquilo. Cerca de 3 horas até El Calafate para uma escala rápida e mais 55 minutos até Ushuaia. Antes das duas da tarde pousamos no fim do mundo.
Na saída do aeroporto, o ar gelado já provocou a primeira exclamação de prazer. E a visão da cidade entre o mar e as montanhas nevadas já cria todo o clima de “uau!” que nos acompanharia nos próximos dias.
Para mim, outra vantagem de viajar com minha mãe é que o “slow travel” de que sou adepto torna-se imperativo considerando as necessidades dela em descansar muito mais do que propriamente cansar. Numa viagem normal eu deixaria as malas no hotel e sairia para um primeiro reconhecimento da cidade. Mas isso foi feito umas duas horas mais tarde, depois de um cochilo repousante admirando a vista do quarto do hotel, direto para o Porto de Ushuaia, no Canal de Beagle.
A caminhada do fim da tarde foi em busca de um café para o lanche da tarde. Andamos pela Av. San Martín, a rua de comércio da cidade. Muitas lojas e vários restaurantes tornam esta rua a principal da cidade. É aqui que os turistas andam quando não estão fazendo os passeios turísticos que a cidade oferece.
Andamos umas 8 quadras e paramos num café para saborear uma “hamburguesa” (hambúrguer) com chopp, no meu caso, ou com café com leite, no caso dela. Foi um jantar-lanche simpático e saboroso.
Voltamos ao hotel e o programa agora era esperar a noite cair, só para se admirar do horário. Por volta de 22h30 a noite caiu (uau!), mas passada a meia noite o céu ainda não estava totalmente escuro. Acho que na verdade ele nunca fica “negro” como o conhecemos. A foto abaixo foi tirada às 21h30.
É, no mínimo, diferente! Só pra completar a informação, antes das quatro da manhã acordei e vi que o dia já estava claro novamente... mas não me impediu de voltar a dormir!
Na manhã seguinte, o café, sempre servido no quarto, chegou na hora marcada, às 8 horas. Com a eficiente ajuda da recepção do hotel eu reservei um passeio de barco para o dia. Sairíamos às 9h30 do porto turístico.
O passeio dura cinco horas e é feito num catamarã confortável, com área interna protegida do vento e do frio. Saíamos para fora somente ao chegar nos pontos de interesse, como a pedra dos “cormoranes”, tipo de pássaro da cor dos pinguins, mas com asas maiores. Logo em seguida, a ilha dos lobos, onde alguns simpáticos lobos marinhos nos recebem balançando a cabeça de um lado a outro... tão bonitinho!
Passamos pelo Farol Les Eclaireurs, construído numa pequena ilha bem no meio do canal e depois chegamos ao momento mais esperado, a pinguinera, onde esses desengonçados bichinhos em preto e branco encantaram a todos (uau!).
Assim foi boa parte do dia. Estranharam a falta de fotos? Eu poderia dizer que não era permitido (alguém até podia acreditar...) ou então que estava chovendo e não podia molhar a máquina, ou ainda que acabou a bateria, mas vou assumir diante de todos: esqueci de levar a câmera. Esse assunto acaba aqui.
Maravilhados com o passeio relaxante, voltamos ao hotel e saímos bem mais tarde para jantar. Encontramos um restaurante com bufê livre que incluía o famoso “cordeiro fueguino”, assado inteiro na brasa... ai, ai... foi de chorar de tão bom! Vinho tinto e um garçon muito simpático e gentil coroaram a noite (uau!).
No dia seguinte o programa era um passeio pelo Parque Nacional da Terra do Fogo. O micro-ônibus da agência chegou às 8h30. A primeira parada era na estação de onde sai o "Trem do Fim do Mundo". Trata-se de uma réplica dos trens que transportavam prisioneiros de Ushuaia até os locais de corte de madeira para construir a cidade. Toda essa história é ouvida em três idiomas, inclusive português, por um sistema de autofalantes dentro do trem. Tem seu valor histórico, mas o que mais encanta é a paisagem do parque.
Aliás, abrindo um parênteses, o sistema de som do trem seria dispensável. Eu adoro história e tenho sede de conhecer tudo o que visito. Mas ver aquelas paisagens maravilhosas ouvindo histórias sobre maus tratos a prisioneiros, sofrimento... achei meio "over", se é que me entendem... não "ornou"...
Cerca de uma hora depois, o trem para na estação final e voltamos ao ônibus para continuar o passeio. Fizemos algumas paradas com pequenas caminhadas (minha mãe realizou "quase" todas e "quase" sem cansar). Mas o visual e o clima frio, num dia lindo de sol, ajudaram a fazer o cansaço ficar de lado. Dê uma olhada:
Essa foto acima foi tirada de um dos locais impactados por uma burrice ecológica cometida na década de 1940. Devido ao clima semelhante, alguns castores foram "importados" do Canadá para fins de extração da pele. Acontece que não há predadores naturais para eles nestas terras, o que causou uma proliferação rápida da espécie.
Hoje os bichinhos são controlados pelos biólogos do parque, que não deixam a população aumentar. Mas muito estrago já foi feito. Com os dentes afiados, os roedores derrubam árvores para construir diques para alagar pedaços de terra e assim se proteger de predadores que eles imaginam que existem por ali... além das árvores derrubadas, morrem também aquelas que acabam atingidas pela água da represa. É o que se chama de desastre ecológico, causado pelo homem, é claro!
Depois do passeio, um almoço à base de "pasta" e o merecido descanso no hotel. Não saímos mais neste dia. É claro que a vista da janela do quarto nos supria de qualquer vontade...
Esse navio da foto acima chegou durante a noite e nós nem ouvimos nada... (UAU!) ao abrir a cortina na manhã do dia 31, levei um susto, pois eu já achava grande o navio cargueiro que está do lado de cá do píer. Foi uma diversão a mais na janela... hehe
Neste último dia do ano saímos apenas para conhecer o Museu do Presídio, que apresenta uma grande exposição da história da cidade, da Terra do Fogo e das expedições à Antártida. A exposição é bem montada, mas prescinde um pouco mais de cuidado. De qualquer forma, um local que deve ser visitado em Ushuaia.
Após a visita ao museu, procuramos um restaurante para almoçar. Para variar um pouco, saímos da Av. San Martín e fomos à Av. Maipú, à beira do canal. Escolhemos um cujo salão ficava no segundo andar, com bela vista para o mar. Havia fila de espera, pois a população do navio invadira as ruas da cidade e todos os estabelecimentos comerciais estavam apinhados de gente... mas não demorou muito e conseguimos uma mesa.
Não era exatamente na janela, mas nada que uma senhora de idade não consiga, fazendo de conta que está sentada ali "só pra ver a vista mais de perto"... hehehe... mudamos para a mesa na janela e nos deliciamos com "centolla", um tipo saboroso de carangueijo gigante e filé de merluza. Vinho branco e uma linda vista. Nada melhor! (uau! duplo)
Voltamos para o hotel e nos demos ao luxo de não fazer nada de especial para a passagem da meia noite. Até comprei um espumante, mas o vinho do almoço já foi suficiente e abri apenas uma cerveja para brindar. O mais legal é que a meia noite chegou ao som dos apitos dos barcos e navios ancorados no porto. Nenhum fogo de artifício ou rojão foi percebido. As ruas estavam totalmente desertas. Quando passava um carro, ouvia-se a buzina meio tímida... foi o ano novo que pedimos: sossegado e tranquilo (super UAU!)!
No dia 1º de janeiro de 2010 saímos apenas para comprar alguns souvenirs e fazer um lanche antes de ir para o aeroporto. Chegava ao fim nossa incursão pelo fim do mundo. Mas já deixou saudade!
Em Buenos Aires, dois dias para descansar e fazer pequenos passeios. Num dia caminhamos pela agradável Recoleta e no outro fomos às Galerias Pacífico. A prova de que minha mãe gosta muito mais de natureza do que dos apelos comerciais da cidade grande é a foto abaixo, tirada sob a imensa árvore na praça em frente ao cemitério da Recoleta.
Escrevo esse post no hotel, na noite anterior à nossa partida. Como despedida em grande estilo, hoje almoçamos no maravilhoso Cabaña Las Lilas, que certamente serve uma das melhores carnes do mundo (se não a melhor!).
Essa foto acima resume, de algum modo, a viagem que agora se encerra. Natureza, tranquilidade, minha mãe satisfeita, mas com um certo ar de cansaço... hehe... tenho certeza que ela adorou e faria de novo, mas não vê a hora de voltar pra casa!
Obrigado pela companhia e até a próxima... e que seja logo!
Até!
P.S.: Desejo a todos os meus leitores, neste momento em que decola um novo ano, que cada dia seja uma nova viagem, cheia de alegria e prazer. Que as turbulências inevitáveis sejam apenas o molho necessário para deixar o prato mais saboroso! Feliz 2010 e viaje sempre!